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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

POO::Plena-14-Objetos que usam objetos

POO-F-13-Tratamento de exceções POO-P-15-Associações
A Programação Orientada a Objetos (POO) é uma técnica de construção de sistemas onde um conjunto de objetos se inter-relacionam para produzir os resultados desejados. Todo objeto é uma ocorrência de uma classe, combinando dados e operações específicas, de maneira a definir um conjunto particular de responsabilidades.

A construção de sistemas orientados a objetos (OO) é bastante interessante, pois como os objetos têm suas responsabilidades delimitadas, é possível que as classes que os originam sejam utilizados em situações diferentes, ou seja, a OO promove a reusabilidade de código.

Outro aspecto positivo é que a manutenção do código se torna mais simples, pois, dependendo da qualidade do projeto, podem ser feitas modificações apenas nas classes relacionadas a objetos específicos, sem que isso implique em alterações em outras classes, ou seja, nas demais partes do sistema [7].

Divisão de responsabilidades

Existe um importante princípio no projeto de software que é conhecido como coesão (cohesion) ou divisão de responsabilidades (responsability division). Segundo este princípio, um módulo, uma classe ou um componente de software deve ter uma, e apenas uma, responsabilidade.

Tal responsabilidade deve ser claramente definida, de maneira que, num projeto OO, cada classe deva ser escrita, modificada e mantida para apenas um propósito, representando um tipo único de entidade ou de ator.

Quando uma classe possui muitas responsabilidades é usualmente difícil compreender seu papel, o que torna sua manutenção é mais complicada; além disso, será pouco provável seu reuso, devido a combinação peculiar de responsabilidade.

Por outro lado, quando uma classe é bem coesa, isto é, quanto é centrada numa responsabilidade única, somente uma razão específica leva à sua modificação, o que  simplifica e flexibiliza a realização de mudanças no futuro, pois provavelmente tais alterações não criarão impactos em outras entidades do sistema.

Embora possa existir alguma dificuldade em dividir as responsabilidades que surgem num problema, tal trabalho de separar é compensado pelas facilidades em evoluir.

Problema-Exemplo

Uma empresa especializada na instalação de pisos e carpetes precisa, com grande frequência, calcular a área e o perímetro dos espaços onde tais acabamentos serão instalados, pois tais informações possibilitam determinar a lista de materiais necessários, da qual deriva o orçamento e, depois, o pedido e entrega dos itens envolvidos para realização do serviço. Tais espaços, tipicamente salas e quartos, são tipicamente retangulares.

Assim, um programa simples que determina a área de tais espaços é bastante útil para agilizar o cálculo da área do piso a ser instalado e também o perímetro de rodapés. Existem outros detalhes neste serviço, que serão omitidos por serem menos importantes, de maneira que o problema seja reduzido a "como determinar a área e perímetro de uma sala retangular".

O retângulo é uma entidade do problema, o que sugere a existência de uma classe Retangulo. Um programa simples pode ser construído para obter os dados necessários para criar um objeto retângulo e, com este, determinar as informações requeridas de área e perímetro.

Então é necessário modelar uma classe Retangulo, para o cálculo de área e perímetro; e outra para o programa em si, que interage com o usuário. Isto separa as responsabilidades identificadas.

Modelagem da classe Retangulo

Uma sala ou área retangular é um retângulo, formado por quatro lados perpendiculares, onde os lados opostos têm a mesma medida: a medida maior (de dois dos lados opostos) será denominada comprimento e a medida menor (dos outro lados) de largura. Da geometria sabemos que:
  • área = comprimento * largura
  • perímetro = 2 * (comprimento + largura)
A representação mais simples de um retângulo é uma dupla de medidas (comprimento e largura), pois os seus quatro ângulos são sempre 90°. Isto indica que comprimento e largura são atributos (ou campos) desta entidade (da classe Retangulo), cujos valores são números reais (ou de tipo double) e positivos, ou seja, comprimento>0.0 e largura>0.0.

Como tais atributos tem uma restrição (são apenas positivos), mas o tipo double aceita valores positivos e negativos, devem ser privados, evitando seu acesso direto e indiscriminado. Métodos de acesso ou getters podem ser providos para que o valor de comprimento e largura de um retângulo sejam obtidos e conhecidos; assim como métodos de alteração ou setters devem ser inclusos para que seja possível modificar as medidas do retângulo, respeitando as regras dadas.

Como não é possível definir (e portanto existir) um retângulo sem estas duas medidas, o construtor da classe deve exigir dois argumentos reais para suprí-las. Não deve ser incluso um construtor default, pois não parece existir um retângulo de medida padrão.

Métodos adicionais podem calcular a área e o perímetro, sem demandar outros dados, pois apenas as medidas de comprimento e largura são necessárias. Tais métodos podem ser denominados area ou getArea, perimetro ou getPerimetro.

Esta análise resulta numa classe Java que pode ser como segue.
public class Retangulo {
// atributos
   private double comprimento, largura;

   // construtor parametrizado exige dimensões
   public Retangulo (double comprimento, double largura)
         throws RuntimeException {
      setComprimento(comprimento);
      setLargura(largura);
   }

// métodos de ajuste/mutação
   public void setComprimento (double comprimento)
 
         throws RuntimeException {
      // verifica dimensão
      if (comprimento<=0) {
         throw new RuntimeException("Comprimento invalido: "
            + comprimento);
      }
      // dimensão ok
      this.comprimento = comprimento;
   }
   public void setLargura (double largura)
         throws RuntimeException {
      // verifica dimensão
      if (largura<=0) {
         throw new RuntimeException("Largura invalida: " + largura);
      }
      // dimensão ok
      this.largura = largura;
   }

// métodos de acesso/observação
   public double getComprimento () { return comprimento; }
   public double getLargura () { return largura; }

   public double area() { return comprimento*largura; }
   public double perimetro() { return 2*(comprimento+largura); }

// método de acesso "padronizado"
   public String toString() {
      return String.format("Retangulo[C:%.2d x L:%.2d]",
            comprimento, largura);
   }
}

Um objeto do tipo Retangulo pode ser instanciado com:
Retangulo ret1 = new Retangulo(4.20, 2.70);

As medidas podem ser modificadas com os métodos setter:
ret1.setComprimento(4.30);
ret1.setLargura(2.75);

As medidas podem ser obtidas individualmente com os métodos getter:
double c = ret1.getComprimento();
double l = ret1.getLargura();

Uma String que descreve o objeto pode ser obtida com toString():
// uso direto - explícito
String desc = ret1.toString();
// uso indireto - implícito
System.out.println(ret1);

A área e o comprimento podem ser obtidas com:
double area = ret1.area();
double perim = ret1.perimetro();

Caso medidas inválidas sejam fornecidas, na instanciação ou na alteração de uma das medidas do retângulo, será lançada uma exceção do tipo RuntimeException:
// na instanciação
Retangulo ret2 = new Retangulo(-2, 3.5);
|  java.lang.RuntimeException thrown: Comprimento invalido: -2.0
|        at Retangulo.setComprimento (#1:15)
|        at Retangulo.<init> (#1:7)
|        at (#2:1)

// na alteração
ret1.setComprimento(0);
|  java.lang.RuntimeException thrown: Comprimento invalido: 0.0
|        at Retangulo.setComprimento (#1:15)
|        at (#4:1)

Com isso dispomos de uma classe Retangulo, que modela adequadamente as entidades deste tipo e cujas instâncias podem representar convenientemente salas retangulares, provendo os serviços de cálculo da área e do perímetros destas salas.

Modelagem do programa

O programa mais simples que permite resolver o problema de determinar a área e o perímetro de uma sala retangular precisa:
  1. obter as medidas da sala (comprimento e largura), solicitando-as para o usuário;
  2. criar um objeto de tipo Retangulo com as medidas dadas;
  3. obter a área e o perímetro da sala por meio do uso do objeto Retangulo;
  4. exibir os resultados (área e o perímetro da sala).
Uma classe denominada APS (Área e Perímetro da Sala) é um programa Java válido se contiver um método main(String[]), como o que segue, que realiza as ações listadas acima.
import java.util.Scanner;

public class APS {
   public static void main(String[] args) {
      // obtém medidas da sala
      Scanner teclado = new Scanner(System.in);
      System.out.print("Sala--comprimento: ");
      double comprimento = teclado.nextDouble();
      System.out.print("Sala--largura: ");
      double largura = teclado.nextDouble();

      // cria objeto Retangulo
      Retangulo sala = new Retangulo(comprimento, largura);

      // obtém área e perímetro da sala
      double area = sala.area();
      double perimetro = sala.perimetro();

      // exibe resultados
      System.out.println("Sala--area = " + area);     
      System.out.println("Sala--perimetro = " + perimetro);     

      // finalização do programa
      teclado.close();
   }
}

Quando executado, este programa produz resultados como:
>java APS
Sala--comprimento: 4,3
Sala--largura: 2,75
Sala--area = 11.825
Sala--perimetro = 14.1

Considerações finais

Embora simples, esta solução permite o cálculo da área e do perímetros de uma sala retangular. Além disso, devemos observar que:
  • A classe APS realiza a interação com o usuário, ou seja, solicita valores e exibe resultados.
  • A classe APS não tem conhecimento de como os resultados são obtidos (como são calculados), mas utiliza um objeto de outra classe (Retangulo) que é capaz de realizar tais cálculos.
  • A classe APS é como um cliente da classe Retangulo.
  • A classe Retangulo não realiza qualquer interação com usuário (não existe leitura de valores ou exibição de mensagens), possibilitando seu uso por qualquer tipo de programa (de console, GUI ou web).
  • Cada classe tem suas próprias responsabilidades: mudanças na interação com usuário não afetam a classe Retangulo; mudanças na classe Retangulo - desde que não modifiquem sua interface - não afetam seus clientes.
Esta divisão de responsabilidades acaba por criar uma organização dos elementos da aplicação, isto é, das classes componentes deste sistema que é conhecida como organização em camadas, uma arquitetura bastante conhecida e consagrada.

A figura que segue ilustra o modelo de camadas tradicional:


Considerando apenas as camadas não opcionais, temos:
  • Presentation Layer, ou Camada de Apresentação, que é responsável pela interação da aplicação com seus usuários. Esta camada contém a interface da aplicação.
  • Logic Layer, ou Camada de Lógica ou de Regras de Negócio, contém os elementos necessários para a realização das operações e transações requeridas pela aplicação.
  • Persistence Layer, ou Camada de Persistência, tem como responsabilidade prover os serviços de armazenamento e recuperação dos dados da aplicação, envolvendo bancos de dados, sistemas de arquivos e outros elementos presentes em sistemas locais, em rede, centralizados ou em nuvem.
Nosso exemplo é aderente a esta arquitetura, pois:
  • Classe APS constitui a camada de apresentação da aplicação, interagindo com o usuário na obtenção de dados e exibição de resultados.
  • Classe Retangulo faz parte da camada de lógica, pois é responsável pelas operações da aplicação (cálculo da área e do perímetro de salas retangulares).
  • Não existem elementos da camada de persistência, pois nossa aplicação não armazena dados, o que revela uma fragilidade justificável por sua simplicidade.
Um outro aspecto importante deste exemplo é que a utilização de um objeto por parte de um segundo objeto pode indicar uma associação entre tais objetos, ou seja um vínculo ou um relacionamento. Este é o assunto do próximo post!

POO-F-13-Tratamento de exceções POO-P-15-Associações

Referências Bibliográficas

[1] JAMSA, K.; KLANDER, L.. Programando em C/C++: a bíblia. São Paulo: Makron Books, 1999.
[2] PAGE_JONES, M.. Fundamentos do Desenho Orientado a Objeto com UML. São Paulo: Makron Books, 2001.
[3] SOMMERVILLE, I.. Software Engineering. 6th. Ed. Harlow: Pearson, 2001.
[4] DEITEL, H.M.; DEITEL, P.J.. Java: como programar. 6a. Ed. São Paulo: Pearson Prentice-Hall, 2005.
[5] SAVITCH, W.. C++ Absoluto. São Paulo: Pearson Addison-Wesley, 2004.
[6] JANDL JR., P. Introdução ao C++. São Paulo: Futura, 2003.
[7] JANDL JR., P.. Java - guia do programador. 3a. ed. São Paulo: Novatec, 2015.
[8] RUMBAUGH, J.; BLAHA, M.; PREMERLANI, W.; EDDY, F.; LORENSEN, W.. Object-oriented modeling and design. Englewoods Cliffs: Prentice-Hall, 1991.
[9] STROUSTRUP, B.. The C++ Programming Language. 3rd Ed. Reading: Addison-Wesley, 1997.
[10] LANGSAM, Y.; AUGENSTEIN, M. J.; TENENBAUM, A. M.. Data structures using C and C++. 2nd Ed. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 1996.
[11] WATSON, K.; NAGEL, C.; PEDERSEN, J.H.; REID, J.D.; SKINNER, M.; WHITE, E.. Beginning Microsoft Visual C# 2008. Indianapolis: Wiley Publishing, 2008.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

POO::Fundamentos-13-Tratamento de exceções

POO-F-12-Exceções e seu tratamento POO-P-14-Objetos que usam objetos
As linguagens OO modernas utilizam as exceções para realizar o tratamento de qualquer situação anormal ou erro no código dos programas. As exceções são objetos especiais que sinalizam a ocorrência de problemas que devem ser tratados pelo programador, possibilitando a criação de código mais robusto e também seguro.

Como vimos, no Java, as exceções são objetos da família da classe java.lang.Exception, que tanto sinalizam a ocorrência de uma anormalidade, como também carregam informações adicionais sobre o problema encontrado. Embora a ocorrência das exceções, como o próprio nome indica, não seja algo normal ou desejado, são previsíveis no projeto como o recebimento de argumentos inválidos, entradas de dados inconsistentes, recursos (arquivos ou urls) não encontrados ou indisponíveis, assim como o time-out das operações executadas.

O tratamento de exceções é, portanto, uma necessidade da programação OO.

Fluxo do tratamento de exceções

O uso das exceções envolve um ciclo de tratamento simples: identificação do problema, criação, lançamento e tratamento.

Identificação do problema

Vários tipos de problemas podem ocorrer durante a execução de um problema, como um dado que não é validado ou um recurso não localizado ou indisponível. Se o problema pode ser resolvido localmente, não precisamos lançar mão do mecanismo de exceções.

Criação de exceção

Mas quando o problema detectado não pode ser resolvido no mesmo local (no mesmo método ou contexto onde foi identificado), deve ser criada uma exceção, do tipo adequado, eventualmente com informações adicionais do problema. A criação de uma exceção é uma operação de instanciação, que envolve o operador new e a classe de exceção selecionada [4][7]. As exceções criadas podem ser do tipo monitorado (checked exception) ou não monitorado (unchecked exception).


Lançamento de exceção

De posse de um objeto de exceção de qualquer tipo, é possível lançar tal exceção (to throw an exception), com uso da diretiva throw. Isto provoca a entrega do objeto de exceção lançado por throw no trecho de código do contexto superior (método que invocou a execução do método onde o problema foi encontrado) [4][7].

Tratamento de exceção

Nos locais do código onde podem ser lançadas exceções não monitoradas (unchecked exceptions), o programador pode optar pelo seu tratamento local (no contexto de sua ocorrência), pela indicação explícita de seu lançamento (para o contexto superior), ou mesmo não fazer nada (que é prática ruim).

Aqui vale lembrar que caso uma exceção, de qualquer tipo, alcance o nível da JVM, que corresponde ao contexto mais alto, pois ela acionou o programa, a execução é interrompida imediatamente e sinalizada para o usuário [7].

Quando são lançadas exceções monitoradas (checked exceptions), o programador deve optar ou pelo seu tratamento local, ou pela indicação explícita de seu lançamento para o contexto superior. Assim as exceções monitoradas exigem melhores práticas de programação!

Se a opção for o lançamento explícito, o método onde a exceção ocorre deverá empregar uma cláusula throw para indicar o lançamento da exceção, como visto no post anterior Exceções e seu lançamento.

Se a opção for o tratamento local, será necessário apanhar a exceção (to catch an exception) com uso de diretivas try associadas com cláusulas catch ou finally, como segue.


Tratamento de Exceções

Para tratarmos as exceções usamos a diretiva try, que em sua forma mais simples, emprega cláusulas catch, com a sintaxe abaixo:
try {
   // bloco de código monitorado
:
} catch (Exception e) {
   // bloco de código de tratamento
:
}

Cada par de chaves { e } delimita um bloco de código.

Aquele que segue a diretiva try é considerado o bloco de código monitorado, no qual se localizam as instruções do programa (acionamento de métodos ou outras operações) onde pode ocorrer uma ou mais exceções.

O outro bloco, que segue a cláusula catch, é o bloco de tratamento de exceções, onde as exceções de um tipo específico são apanhadas e tratadas com o código ali presente.

As exceções lançadas no bloco de código não monitorado que não apanhadas pelo bloco de tratamento de exceções seguem o fluxo usual para o contexto superior.

Se não ocorre qualquer exceção no bloco de código monitorado (bloco try), o bloco catch não é executado, ou seja, a execução sem exceções do programa desvia do bloco catch.

Mas quando ocorre uma exceção no bloco try, a execução é imediatamente desviada para o bloco catch que trata o tipo específico da exceção.

Em ambos os casos a execução continua após a diretiva try/catch, exceto quando são executadas operações de retorno, ou ocorre o encerramento do programa, ou ainda novas exceções são lançadas.

Observe o programa Java que segue, onde o método main converte o primeiro argumento recebido, de String para inteiro, exibindo uma contagem simples.
public class Contagem {
   public static void main (String args[]) {
      int max = Integer.parseInt(args[0]);
      for (int i=0; i<max; i++) {
         System.out.print(i + " ");
      }
      System.out.println();
   }
}

Neste programa, se o usuário não fornece um argumento ou fornece um argumento inválido (que não corresponde a um valor inteiro), o programa é interrompido, com a exibição de várias mensagens que podem confundir o usuário.

Por exemplo, execução do programa Contagem sem argumentos:
>java Contagem
Exception in thread "main" java.lang.ArrayIndexOutOfBoundsException: 0
        at Contagem.main(Contagem.java:3)

Ou, outro exemplo, execução do programa Contagem com um argumento inválido:
>java Contagem Jandl
Exception in thread "main" java.lang.NumberFormatException: For input string: "Jandl"
        at java.base/java.lang.NumberFormatException.forInputString(NumberFormatException.java:65)
        at java.base/java.lang.Integer.parseInt(Integer.java:652)
        at java.base/java.lang.Integer.parseInt(Integer.java:770)
        at Contagem.main(Contagem.java:3)

Neste exemplo, se o usuário não fornece um argumento válido na linha de comando, podem ocorrer dois tipos de exceção na linha:
int max = Integer.parseInt(args[0]);

Se não existe argumento (nada é digitado além do nome da classe), ocorre a exceção: ArrayIndexOutOfBoundsException, que mostra que tentamos usar uma posição do array cujo índice não é válido (no caso o índice 0 que corresponde ao primeiro argumento.

Se o argumento existe mas é inválido (não corresponde a um valor inteiro), ocorre a exceção: NumberFormatException, que indica que a conversão realizada não pode ser concluída devido ao argumento incorreto fornecido (no caso o valor que o usuário digitou).

Para resolver o problema, a linha onde ocorre a exceção deve ser substituída por um trecho que inclua o tratamento de erro. Ou seja, deveríamos substituir:
int max = Integer.parseInt(args[0]);

Pelo trecho dado a seguir:
int max = 0;
try {
   max = Integer.parseInt(args[0]);
} catch (Exception e) {
   // tratamento da exceção
   :
}

Com isso, uma opção melhor para obtermos um programa mais robusto e adequado para o usuário seria como segue:
public class Contagem {
   public static void main (String args[]) {
      int max = 0; // use zero ou outro valor default
   // código que ESTÁ sujeito a exceções
      try {
         max = Integer.parseInt(args[0]);
      } catch (Exception e) {
   // tratamento da exceção
         System.out.println("É necessário um argumento inteiro válido!");
         System.exit(-1); // finalização do programa devido ao erro
      }
   // código que NÃO ESTÁ está sujeito a exceções
      for (int i=0; i<max; i++) {
        System.out.print(i + " ");
      }
      System.out.println();
   }
}

Com este programa, caso não seja fornecido um argumento ou caso seja inválido, será exibida uma mensagem melhor para o usuário, como nos exemplos que seguem:
>java Contagem
É necessário um argumento inteiro válido!

>java Contagem Jandl
É necessário um argumento inteiro válido!

>java Contagem 7
0 1 2 3 4 5 6

Nesta situação, foi escolhido o tratamento de Exception, o tipo mais genérico de exceção, que inclui todas as outras, ou seja, inclui as exceções específicas deste programa que são ArrayIndexOutOfBoundsException e NumberFormatException.

Note que o uso de exceções evita poluir o código que se deseja executar com testes e validações diversas, feitas com diretivas if e switch, além de funções de validação. O bloco de código monitorado contém a sequência de instruções necessárias ao programa, construída para quando tudo está correto. Se ocorrem problemas, a execução é desviada para o bloco de tratamento de erros, que apenas lida com o problema encontrado.

Tratamento seletivo de exceções

Outro aspecto muito positivo da diretiva try é que são permitidas várias cláusulas catch, para exceções diferentes. Assim é possível atrelar dois ou mais blocos de tratamento diferentes para o tratamento de cada exceção possível.

A única regra para isso é primeiro apanhar as exceções mais específicas e depois as mais genéricas, assim tratar a exceção Exception será sempre a última opção, quando necessário.

O programa Contagem agora pode ter um tratamento de exceções bem sofisticado.
public class Contagem {
   public static void main (String args[]) {
      int max = 0; // use zero ou outro valor default
   // código que ESTÁ sujeito a exceções
      try {
         max = Integer.parseInt(args[0]);
   // tratamento de um tipo exceção
      } catch (ArrayIndexOutOfBoundsException e) {
System.out.println(“Faltou argumento.”);
max = 3; // aqui usamos um valor default,
                 // sem finalizar o programa
   // tratamento de outro tipo exceção
      } catch (NumberFormatException e) {
        System.out.println(“Argumento invalido.”);
System.exit(-1); // aqui finalizamos o programa
      }
   // código que NÃO ESTÁ está sujeito a exceções
      for (int i=0; i<max; i++) {
        System.out.print(i + " ");
      }
      System.out.println();
   }
}

Observe que cada exceção possível de ocorrer tem um trecho de código associado, por meio de cláusula catch, que realiza seu tratamento. Apenas um bloco catch é executado, sendo desviados os demais. Outro aspecto positivo é não não necessários testes (com diretivas if ou switch) para determinar o tipo de erro e selecionar seu tratamento.

Se o trecho de código do tratamento torna-se grande, pode ser criado um método de tratamento específico, que separa ainda mais a ocorrência do erro de seu tratamento.

Objetos de exceção apanhados

Deve ser observado que a variável e declarada nos blocos de tratamento de exceção, pode ter qualquer nome determinado pelo programador, como exc, excecao ou outro.

Esta variável permite o acesso e uso do objeto exceção apanhado, o que permite, por exemplo, obter uma String com a mensagem de erro associada ao tipo da exceção:
String msg = e.getMessage();

Tais mensagens podem conter detalhes que podem tanto ser exibidos para o usuário, quando é conveniente e adequado fornecer informações adicionais do problema; como também armazenados em arquivos de registro (logs), para análise posterior.

Também é possível imprimir a rota da exceção no console, isto é, o caminho percorrido pelo programa até a ocorrência da exceção:
e.printStackTrace();

Tal rota também pode ser obtida e processada de outras maneiras, mas isto deixa de ser básico e foge ao escopo desta lição!

Considerações finais

As exceções permitem um tratamento simples do ponto de vista de programação, mas bastante sofisticado quando consideradas as escolhas possíveis entre seu tratamento local e seu envio para contextos superiores. 

Recomenda-se que a ocorrência de erros sempre seja sinalizada com o lançamento de exceções, o que possibilita a separação clara entre o código normal (aquele executado na ausência de erros) e o código de tratamento de erros. Novamente é necessário que tal separação é uma grande vantagem, pois permite, a partir do ponto onde ocorreu exceção, desviar o fluxo de processamento para um contexto superior ou outro ponto mais adequado do programa; mas sem uso de variáveis globais, funções de erro, códigos de erro genéricos e outras técnicas improvisadas.

O tratamento seletivo de erros também possibilita melhor organização do código, o que facilita seu reuso e, principalmente, sua manutenção.


POO-F-12-Exceções e seu tratamento POO-P-14-Objetos que usam objetos

Referências Bibliográficas

[1] JAMSA, K.; KLANDER, L.. Programando em C/C++: a bíblia. São Paulo: Makron Books, 1999.
[2] PAGE_JONES, M.. Fundamentos do Desenho Orientado a Objeto com UML. São Paulo: Makron Books, 2001.
[3] SOMMERVILLE, I.. Software Engineering. 6th. Ed. Harlow: Pearson, 2001.
[4] DEITEL, H.M.; DEITEL, P.J.. Java: como programar. 6a. Ed. São Paulo: Pearson Prentice-Hall, 2005.
[5] SAVITCH, W.. C++ Absoluto. São Paulo: Pearson Addison-Wesley, 2004.
[6] JANDL JR., P. Introdução ao C++. São Paulo: Futura, 2003.
[7] JANDL JR., P.. Java - guia do programador. 3a. ed. São Paulo: Novatec, 2015.
[8] RUMBAUGH, J.; BLAHA, M.; PREMERLANI, W.; EDDY, F.; LORENSEN, W.. Object-oriented modeling and design. Englewoods Cliffs: Prentice-Hall, 1991.
[9] STROUSTRUP, B.. The C++ Programming Language. 3rd Ed. Reading: Addison-Wesley, 1997.
[10] LANGSAM, Y.; AUGENSTEIN, M. J.; TENENBAUM, A. M.. Data structures using C and C++. 2nd Ed. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 1996.
[11] WATSON, K.; NAGEL, C.; PEDERSEN, J.H.; REID, J.D.; SKINNER, M.; WHITE, E.. Beginning Microsoft Visual C# 2008. Indianapolis: Wiley Publishing, 2008.